O fim do milagre econômico alemão e as repercussões para a Europa
Entenda as causas e implicações da fragilidade econômica da Alemanha para a Europa.

A crise da economia alemã: O fim de um milagre?
A crise econômica da Alemanha, que antes era reconhecida como um milagre econômico, resultou da combinação de fatores internos e externos. A dependência de gás russo, a relação comercial com a China e a falta de inovação tecnológica são alguns dos principais elementos que levaram à atual fragilidade da economia alemã.
Resumo
Alemanha, uma nação que já foi sinônimo de estabilidade econômica e inovação, agora se vê em uma situação nada favorável. Os indicadores econômicos do país, uma das maiores economias da zona do euro, têm apresentado resultados insatisfatórios há vários anos, comprometendo seu conhecido status de "milagre econômico". Com a decadência da principal economia europeia, os países vizinhos começarão a sentir os efeitos dessa fragilidade. O país, que antes era celebrado como o Exportweltmeister, ou "campeão mundial de exportações", agora enfrenta um novo cenário, um que remete a sérias inquietações sobre o futuro, de acordo com recente reportagem da BBC News.
Historicamente, a Alemanha já havia atingido o patamar de maior exportadora do mundo, beneficiada por uma relação sólida com a Rússia, fornecedora de gás a custos baixos, e pela parceria comercial com a China. No entanto, a complexidade do cenário político e econômico global, caracterizada pelo Brexit, tarifas comerciais impostas por líderes como Donald Trump, a invasão da Ucrânia pela Rússia e a transformação da China em concorrente, moldou um novo capítulo que questiona a sustentabilidade do modelo industrial alemão.
Além destes fatores, a disfunção interna relacionada à tecnologia também contribuiu para a crise atual. Como observou Wolfgang Münchau, diretor da EuroIntelligence e autor da obra Kaput: O Fim do Milagre Econômico Alemão, "A Alemanha de hoje possui uma das piores redes de telefonia celular da Europa. O uso de fax ainda é predominante no Exército e em consultórios médicos, além do fato de muitas lojas aceitarem apenas dinheiro vivo". Esse retrocesso tecnológico é emblemático de uma nação que negligenciou a inovação em detrimento de modelos de negócios antiquados.
Na realidade, as antigas práticas da indústria automotiva também mostram como o país ficou para trás. Dirigentes germanos, predominantemente homens, por muito tempo desestimaram a relevância dos veículos elétricos, tratando-os como meros "brinquedos para meninas". Essa mentalidade arcaica reflete decisões estratégicas mal calculadas ao longo dos anos, onde a dependência excessiva do gás russo e a falta de investimentos em tecnologias digitais marcaram o reinado da ex-chanceler Angela Merkel. Mesmo que seu governo tenha prosperado em muitos aspectos, ele se revelou um período de estagnação em líderes econômicos.
Além disso, a pandemia de COVID-19 e os desafios geopolíticos exacerbaram problemas de crescimento que já estavam latentes. Um dos exemplos mais impactantes desta crise é a Volkswagen, o maior empregador do setor privado na Alemanha, que ameaça pela primeira vez em 87 anos o fechamento de fábricas no país. Enquanto o estigma das palavras "Made in Germany" se transformava em sinônimo de excelência, a realidade da inabilidade alemã em adaptar sua indústria ao modelo digital está evidente.
Na atualidade, o governo de coalizão sob liderança de Olaf Scholz está à beira de um colapso, obrigando a convocação de novas eleições em 2025, um sinal claro de que a confiança na classe política está em xeque. Tal crise econômica levanta a pergunta: como uma das nações mais tecnologicamente avançadas do mundo falhou em evoluir?
Em uma conversa com a BBC News Mundo, Wolfgang Münchau analisa os vários fatores que carregaram a economia alemã para o buraco na qual se encontra hoje. Quando questionado sobre as repercussões que uma Alemanha estagnada pode ter na Europa, ele recorre à história para argumentar: "A Europa vai sofrer. A Alemanha foi seu motor de crescimento, mas agora, com uma Alemanha que não cresce, o país se torna politicamente menos propenso a apoiar grandes iniciativas da União Europeia, o que impacta o orçamento coletivo, principalmente com relação ao financiamento da guerra na Ucrânia".
Esse cenário apresenta uma linha tênue entre a realidade e a expectativa: um modelo que outrora funcionou perfeitamente agora se mostra insuficiente sob as novas demandas globais. Em contraste com ela, os Estados Unidos, o Brasil, Japão e China confortavelmente diversificaram suas economias, reduzindo a dependência de setores específicos. A alegação de Münchau é clara: a Alemanha imprimiu um modelo que, embora tenha proporcionado crescimento em um período, ao mesmo tempo criou fragilidades que agora estão latentes.
A crise da energia após a invasão da Ucrânia também pontua as fraquezas do legado econômico alemão: a inabilidade no setor automotivo em inovar frente ao advento dos veículos elétricos permitiu que concorrentes, como Tesla e fabricantes chineses, se destacassem. Hoje, a Alemanha se vê às voltas com uma indústria que continua a oferecer produtos obsoletos e se recusa a abraçar unicamente as tecnologias modernas. Esta obsolescência acarreta uma crítica à dependência da liderança industrial e uma ignorância crescente das novas demandas de mercado, que incluem uma economia mais voltada para os serviços do que para a manufatura.
Quanto à possibilidade de recuperação, Münchau expressa ceticismo. "Esta crise é diferente das anteriores, em que os desafios eram a competitividade e os custos. Nesta ocasião, a Alemanha está vendendo produtos obsoletos pra um mundo que evolui rapidamente. O país, além de perder a liderança no século 21 em termos digitais, não soube adaptar-se em tempo”, argumenta, evidenciando a dificuldade em se reinventar.
A crítica de Münchau se estende à sociedade alemã, que, segundo ele, apresenta um certo grau de tecnofobia. Essa resistência a aceitar novas tecnologias também remete a decisões políticas, como o fechamento das usinas nucleares, e reflete a aversão a inovações como o dinheiro eletrônico e o uso dos cartões de crédito. Esta exceção não se aplica apenas a tecnologias cotidianas, mas também atinge estruturas governamentais que se mantêm ainda tão dependentes de equipamentos antiquados, como o fax.
Um elemento paradoxal que emerge nesta narrativa é que o que fez da Alemanha uma potência nas décadas passadas agora atua como substrato de sua crise atual. Bens que se mostraram exitosos em um contexto favorável agora aparecem como limitações: demasiada dependência da Rússia e da China, como ecoa a própria natureza vulnerável da tecnologia digital, cujas repercussões estão se tornando cada vez mais claras. A geopolítica que funcionava para a Alemanha agora não se sustenta mais, e ao insistir em modelos antigos, o país perdeu competitividade em um mundo em rápida transformação.
Neste contexto, as questões sobre liderança econômica e o futuro da indústria na Alemanha se entrelaçam em um cenário de incertezas. A fragilidade da economia alemã não é apenas um problema interno, mas um desafio que ressoa em toda a Europa. É essencial que a Alemanha reverta suas decisões erradas do passado e abraçar uma mudança quanto à sua infraestrutura digital e à diversificação de sua economia.
Os especialistas concordam que somente uma abordagem inovadora e um compromisso com as reformas podem salvar a força da economia alemã e, consequentemente, da União Europeia. Como mencionado, o que permitiu à Alemanha sobreviver nos tempos anteriores agora é o que a torna vulnerável e, por isso, rever o passado pode ser a chave para o renascimento econômico necessário para garantir um futuro sustentável.
A Alemanha, uma nação que já foi sinônimo de estabilidade econômica e inovação, agora se vê em uma situação nada favorável. Os indicadores econômicos do país, uma das maiores economias da zona do euro, têm apresentado resultados insatisfatórios há vários anos, comprometendo seu conhecido status de "milagre econômico". Com a decadência da principal economia europeia, os países vizinhos começarão a sentir os efeitos dessa fragilidade. O país, que antes era celebrado como o Exportweltmeister, ou "campeão mundial de exportações", agora enfrenta um novo cenário, um que remete a sérias inquietações sobre o futuro.
Historicamente, a Alemanha já havia atingido o patamar de maior exportadora do mundo, beneficiada por uma relação sólida com a Rússia, fornecedora de gás a custos baixos, e pela parceria comercial com a China. No entanto, a complexidade do cenário político e econômico global, caracterizada pelo Brexit, tarifas comerciais impostas por líderes como Donald Trump, a invasão da Ucrânia pela Rússia e a transformação da China em concorrente, moldou um novo capítulo que questiona a sustentabilidade do modelo industrial alemão.
Além destes fatores, a disfunção interna relacionada à tecnologia também contribuiu para a crise atual. Como observou Wolfgang Münchau, diretor da EuroIntelligence e autor da obra Kaput: O Fim do Milagre Econômico Alemão, "A Alemanha de hoje possui uma das piores redes de telefonia celular da Europa. O uso de fax ainda é predominante no Exército e em consultórios médicos, além do fato de muitas lojas aceitarem apenas dinheiro vivo". Esse retrocesso tecnológico é emblemático de uma nação que negligenciou a inovação em detrimento de modelos de negócios antiquados.
Na realidade, as antigas práticas da indústria automotiva também mostram como o país ficou para trás. Dirigentes germanos, predominantemente homens, por muito tempo desestimaram a relevância dos veículos elétricos, tratando-os como meros "brinquedos para meninas". Essa mentalidade arcaica reflete decisões estratégicas mal calculadas ao longo dos anos, onde a dependência excessiva do gás russo e a falta de investimentos em tecnologias digitais marcaram o reinado da ex-chanceler Angela Merkel. Mesmo que seu governo tenha prosperado em muitos aspectos, ele se revelou um período de estagnação em líderes econômicos.
Além disso, a pandemia de COVID-19 e os desafios geopolíticos exacerbaram problemas de crescimento que já estavam latentes. Um dos exemplos mais impactantes desta crise é a Volkswagen, o maior empregador do setor privado na Alemanha, que ameaça pela primeira vez em 87 anos o fechamento de fábricas no país. Enquanto o estigma das palavras "Made in Germany" se transformava em sinônimo de excelência, a realidade da inabilidade alemã em adaptar sua indústria ao modelo digital está evidente.
Na atualidade, o governo de coalizão sob liderança de Olaf Scholz está à beira de um colapso, obrigando a convocação de novas eleições em 2025, um sinal claro de que a confiança na classe política está em xeque. Tal crise econômica levanta a pergunta: como uma das nações mais tecnologicamente avançadas do mundo falhou em evoluir?
Em uma conversa com a BBC News Mundo, Wolfgang Münchau analisa os vários fatores que carregaram a economia alemã para o buraco na qual se encontra hoje. Quando questionado sobre as repercussões que uma Alemanha estagnada pode ter na Europa, ele recorre à história para argumentar: "A Europa vai sofrer. A Alemanha foi seu motor de crescimento, mas agora, com uma Alemanha que não cresce, o país se torna politicamente menos propenso a apoiar grandes iniciativas da União Europeia, o que impacta o orçamento coletivo, principalmente com relação ao financiamento da guerra na Ucrânia".
Esse cenário apresenta uma linha tênue entre a realidade e a expectativa: um modelo que outrora funcionou perfeitamente agora se mostra insuficiente sob as novas demandas globais. Em contraste com ela, os Estados Unidos, o Brasil, Japão e China confortavelmente diversificaram suas economias, reduzindo a dependência de setores específicos. A alegação de Münchau é clara: a Alemanha imprimiu um modelo que, embora tenha proporcionado crescimento em um período, ao mesmo tempo criou fragilidades que agora estão latentes.
A crise da energia após a invasão da Ucrânia também pontua as fraquezas do legado econômico alemão: a inabilidade no setor automotivo em inovar frente ao advento dos veículos elétricos permitiu que concorrentes, como Tesla e fabricantes chineses, se destacassem. Hoje, a Alemanha se vê às voltas com uma indústria que continua a oferecer produtos obsoletos e se recusa a abraçar unicamente as tecnologias modernas. Esta obsolescência acarreta uma crítica à dependência da liderança industrial e uma ignorância crescente das novas demandas de mercado, que incluem uma economia mais voltada para os serviços do que para a manufatura.
Quanto à possibilidade de recuperação, Münchau expressa ceticismo. "Esta crise é diferente das anteriores, em que os desafios eram a competitividade e os custos. Nesta ocasião, a Alemanha está vendendo produtos obsoletos pra um mundo que evolui rapidamente. O país, além de perder a liderança no século 21 em termos digitais, não soube adaptar-se em tempo", argumenta, evidenciando a dificuldade em se reinventar.
A crítica de Münchau se estende à sociedade alemã, que, segundo ele, apresenta um certo grau de tecnofobia. Essa resistência a aceitar novas tecnologias também remete a decisões políticas, como o fechamento das usinas nucleares, e reflete a aversão a inovações como o dinheiro eletrônico e o uso dos cartões de crédito. Esta exceção não se aplica apenas a tecnologias cotidianas, mas também atinge estruturas governamentais que se mantêm ainda tão dependentes de equipamentos antiquados, como o fax.
Um elemento paradoxal que emerge nesta narrativa é que o que fez da Alemanha uma potência nas décadas passadas agora atua como substrato de sua crise atual. Bens que se mostraram exitosos em um contexto favorável agora aparecem como limitações: demasiada dependência da Rússia e da China, como ecoa a própria natureza vulnerável da tecnologia digital, cujas repercussões estão se tornando cada vez mais claras. A geopolítica que funcionava para a Alemanha agora não se sustenta mais, e ao insistir em modelos antigos, o país perdeu competitividade em um mundo em rápida transformação.
Neste contexto, as questões sobre liderança econômica e o futuro da indústria na Alemanha se entrelaçam em um cenário de incertezas. A fragilidade da economia alemã não é apenas um problema interno, mas um desafio que ressoa em toda a Europa. É essencial que a Alemanha reverta suas decisões erradas do passado e abraçar uma mudança quanto à sua infraestrutura digital e à diversificação de sua economia.
Os especialistas concordam que somente uma abordagem inovadora e um compromisso com as reformas podem salvar a força da economia alemã e, consequentemente, da União Europeia. Como mencionado, o que permitiu à Alemanha sobreviver nos tempos anteriores agora é o que a torna vulnerável e, por isso, rever o passado pode ser a chave para o renascimento econômico necessário para garantir um futuro sustentável.
Fonte: Adaptado de artigo da BBC News Mundo Leia a matéria original aqui