As secas, embora não tenham o dramatismo de tempestades ou incêndios, costumam ser negligenciadas ao analisarmos os desastres naturais. No entanto, sua destrutividade é vasta e multifacetada, abrangendo desde mudanças de longo prazo na ecologia hídrica de um continente até questões como a escassez de chips de computador (UNCCD, 2024).

Com o aquecimento do clima, as secas estão se tornando mais frequentes. Um recente relatório da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD) projeta que três em cada quatro indivíduos estarão afetados por secas até 2050, o que evidencia a urgência desse tema (UNCCD, 2024).

Os dados do novo Atlas Mundial de Secas indicam que esses fenômenos naturais estão entre os perigos globais mais caros e letais. Hugo Morán, Secretário de Estado do Meio Ambiente da Espanha e co-presidente da Aliança Internacional pela Resistência à Seca, destaca que "as secas representam um dos maiores desafios do século XXI".

O Atlas da UNCCD analisa os efeitos das secas através de cinco áreas principais: suprimento de água, onde a escassez de água potável se torna uma ameaça direta à sobrevivência das populações; agricultura, onde a diminuição da disponibilidade de água atinge a produção agrícola, comprometendo a segurança alimentar; hidreletricidade, onde a redução do nível das reservas hídricas afeta a geração de energia; navegação, onde rios que costumavam ser navegáveis podem se tornar impraticáveis, impactando o comércio e o transporte; e ecossistemas, onde as secas impactam negativamente a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.

Estudos de caso de secas ao redor do mundo exemplificam esses efeitos. O "Milênio da Seca" na Austrália, a seca na Bacia do Don, que afetou a Ucrânia e a Rússia, e o "Dia Zero" em cidades como Cape Town, na África do Sul, e Chennai, na Índia, mostram como a falta de água pode levar a crises humanitárias.

O Atlas também oferece diretrizes para construir resiliência. Essas diretrizes incluem governança, onde a implementação de políticas de preços e sistemas de alerta pode ajudar a preparar as comunidades; uso do solo, onde medidas de restauração e reflorestamento são essenciais para reduzir a degradação ambiental; e gestão do suprimento de água, onde o manejo adequado de águas subterrâneas e desperdícios é fundamental para a sustentabilidade hídrica.

Essa necessidade de pensar em soluções estruturais é urgentemente destacada na literatura científica atual, que clama por uma abordagem de gestão da água que seja não apenas reativa, mas proativa.

Uma seca é uma condição climática caracterizada pela falta de precipitação, resultando em escassez de água em uma determinada região. As secas podem ser causadas por uma combinação de fatores naturais e humanos, incluindo mudanças climáticas, desmatamento e gestão inadequada dos recursos hídricos.

A preparação inclui a gestão eficiente da água, implementação de políticas de uso do solo sustentável e criação de reservas de água. Regiões áridas e semiáridas são mais vulneráveis, mas mesmo áreas previamente consideradas úmidas estão enfrentando riscos crescentes devido às secas.

A mensagem do World Drought Atlas é clara: a seca é um fenômeno global que toca todos os cantos do planeta. Enfrentá-la requer uma combinação de políticas eficazes, inovação tecnológica e uma abordagem mais humana para lidar com os desafios ambientais. Não se trata apenas de mitigar os efeitos imediatos, mas de construir uma infraestrutura resiliente que permita às comunidades prosperar em face dos desafios hídricos futuros.